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PRESS RELEASE


Desconstruindo o Mickey:
Gemini investiga o nascimento de estrelas massivas


19/05/2004
[Sem embargo]

       O processo de nascimento de estrelas massivas não é ainda muito bem conhecido. As estrelas massivas nascem em densos casulos de gás e poeira o que impede a observação direta em comprimentos de onda no visível. Parâmetros importantes das estrelas, como o tipo espectral por exemplo, só podem ser estimados a partir de observações em comprimentos de onda maiores, como o infravermelho próximo. Entretanto, em estágios muito iniciais de formação as estrelas estão tão mergulhadas em seus casulos que não são detectadas nem mesmo no infravermelho próximo e observações em comprimentos de onda ainda maiores, como o infravermelho médio e rádio, são necessárias1.

       Este é o caso das estrelas mais brilhantes da região HII gigante NGC 35762. Estas estrelas estão em estágios tão iniciais de formação que nenhuma informação pôde ser obtida a partir de observações no infravermelho próximo. Mesmo no infravermelho médio tentativas anteriores de se estudar estas estrelas não tiveram sucesso, pois os instrumentos e telescópios usados não tinham poder de resolução suficiente3.

       Os astrônomos brasileiros Cássio Leandro Barbosa e Augusto Damineli do Departamento de Astronomia do IAG-USP e os colaboradores norte-americanos Robert Blum (CTIO) e Peter Conti (JILA) utilizaram a câmera OSCIR4 para o infravermelho médio acoplada ao telescópio Gemini Sul para investigar estas estrelas. A figura 1 mostra NGC 3576 como vista na banda K (2,2 microns) e no destaque, a imagem na banda N (10,8 microns) da fonte infravermelho médio IRS 1, onde estão as estrelas estudadas.

       Pela primeira vez, IRS 1 é mostrada resolvida em 4 fontes em 10 microns. Duas fontes brilhantes se destacam nesta imagem e duas outras mais fracas se localizam na orelha esquerda do Mickey, dando uma aparência alongada. "O incrível poder de resolução do Telescópio Gemini combinado com a alta resolução da câmera OSCIR nos permitiu descobrir mais uma estrela onde apenas 3 eram conhecidas", afirma Cássio Leandro Barbosa. "A estrela mais próxima do rosto do Mickey na orelha esquerda nunca havia sido observada anteriormente em nenhum comprimento de onda", completa.


NGC 3576 e IRS1 em destaque

Figura 1: NGC 3576 (banda K - 2,2 microns) e IRS1 (banda N - 10,8 microns) em destaque.




Aspecto de IRS 1 nos diferentes filtros.

Figura 2: Diferentes aspectos de IRS 1 nos filtros usados. A imagem na banda K foi obtida pela câmera de aquisição do espectrógrafo PHOENIX montado também no Gemini Sul (gentilmente cedida por R. Blum).


       No regime espectral do infravermelho médio, a emissão dominante é originária da emissão de poeira morna (tipicamente 300 K) localizada nas camadas intermediárias do casulo de gás e poeira em que a estrela está se formando. A poeira é aquecida pela radiação emitida pela estrela (principalmente ultra violeta) e reemite esta radiação em comprimentos de onda mais longos, tais como o infravermelho médio e longo. Os tipos espectrais das estrelas podem ser estimados integrando-se os fluxos medidos nestes comprimentos de onda. " Estamos estudando as estrelas indiretamente, através da bagunça que elas fazem em seus berços.", afirma Augusto Damineli.

       A figura 3 é uma composição das imagens obtidas nos filtros centrados em 7,9, 9,8 e 12,5 microns, codificadas como azul, verde e vermelho, respectivamente.

Imagem composta de IRS 1

Figura 3: Imagem em falsa cor de IRS 1. O filtro em 7,9 microns representa a cor azul,o filtro em 9,8 a cor verde e o filtro em 12,5 microns a cor vermelha.


       " Apesar da figura 3 ser uma imagem em 'cor falsa' ela ajuda a visualizar a posição das duas fontes na orelha esquerda e nos dá uma idéia da emissão de cada objeto", explica Cássio Leandro Barbosa: " a ponta esverdeada da orelha esquerda representa uma fonte emitindo principalmente em 9,8 microns, a segunda fonte, tem uma absorção em 9,8 microns, mas emite principalmente em 12,5 microns dando uma coloração amarelada próximo ao rosto do Mickey".

       Os resultados desta investigação foram submetidos recentemente ao Astronomical Journal, mas podem ser vistos no preprint: Gemini Mid-Infrared Imaging of Massive Young Stellar Objects in NGC 3576 disponível em ftp://ftp.astro.iag.usp.br/cassio/paper/Barbosa.ps.gz


       Quem são os pesquisadores envolvidos?

  • Cássio Leandro Barbosa e Augusto Damineli (Departamento de Astronomia do Instituto de
    Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo,
    IAG-USP, Brasil)
  • Robert Blum (Cerro Tololo Interamerican Observatory – CTIO/NOAO, EUA) e
  • Peter Conti (Joint Institute for Laboratory Astrophysics - JILA, Universidade do
    Colorado, EUA)


       Como posso entrar em contato com eles?
       Porque é importante divulgar esta descoberta?

       Porque o público brasileiro conhece apenas os resultados das pesquisas Gemini feitas por grupos de astrônomos de outros países. O Brasil é sócio do Observatório Gemini há longa data e sua participação é feita através de recursos públicos; o contribuinte tem o direito de estar a par de como esses recursos são empregados, dos resultados científicos das pesquisas assim financiadas e da relevância para a ciência brasileira. É importante que o público leigo saiba o que se faz em Astronomia no Brasil, que essa pesquisa é feita em nível de excelência altíssima, tanto em recursos tecnológicos e qualidade de céu como em recursos humanos, que o Brasil tem papel de destaque no cenário mundial justamente por seus pesquisadores renomados e suas pesquisas de ponta. Essas são as principais razões pelas quais damos extrema importância a esta série de matérias sobre os resultados brasileiros baseados em observações astronômicas com os telescópios Gemini.


       Glossário

1) Apesar de não haver um consenso a respeito, o infravermelho próximo é geralmente definido pelos comprimentos de onda entre 1 e 5 microns, o infravermelho médio entre 5 e 30 microns e o infravermelho distante entre 30 e 200 microns. Acima destes limites estão as ondas sub-milimétricas, milimétricas e as ondas de rádio, com comprimentos de onda de 2 centímetros ou mais.

2) Regiões HII gigantes são nuvens de gás e poeira com condições físicas favoráveis à formação de estrelas massivas. NGC 3576 é uma região HII gigante que está no braço espiral de Carina a uma distância de 9.000 anos-luz.

3) Resolução de um instrumento é a capacidade deste instrumento separar duas estrelas muito próximas uma da outra e que a primeira vista parecem ser apenas um objeto. Quanto mais próximas as estrelas estiverem, maior deverá ser o poder de resolução de um telescópio para separá-las.

4) A câmera OSCIR foi construída pela Universidade da Flórida com financiamento da NASA e é operada conjuntamente pelo Gemini e pelo grupo de Astrofísica Infravermelha da Universidade da Flórida.

 
       
  Visite também :
Imagens deste Press Release em alta resolução
Informações sobre o instrumento OSCIR
Site Brasileiro do telescópio Gemini
Imagens do telescópio Gemini
 



  Última atualização : 19/05/2004
  Contato: mabans@lna.br
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