Após
sete anos de projeto e construção, mas apenas duas semanas
de comissionamento (período durante o qual um instrumento
é testado exaustivamente em condições iguais às de uso e
que antecede a liberação do mesmo para a comunidade científica),
foi obtida a imagem que representa a "primeira luz'' do
GMOS ("Gemini Multi-Object Spectrograph'', que pode ser
traduzido como Espectrógrafo Gemini Multiobjeto), novo instrumento
de estado-da-arte junto ao Telescópio Gemini Norte, localizado
no topo do Mauna Kea, a 4.214 m de altitude, no Havaí. Aí
está revelada claramente e com alto grau de detalhe a imagem
da grande galáxia NGC 628 (também chamada de Messier 74,
ou simplesmente M 74) na constelação de Peixes, conhecida
como "A Galáxia Espiral Perfeita'', devido à sua forma quase
ideal.
O
GMOS foi projetado primeiramente para estudos espectroscópicos
que requerem a obtenção simultânea de várias centenas de
espectros, tais como quando se observam aglomerados de estrelas
e aglomerados de galáxias. No entanto, tal como esta nova
e dramática imagem mostra, o GMOS também é capaz de produzir
belas imagens astronômicas com sua enorme matriz de mais
de 28 milhões de sensores ultra-sensíveis. A imagem desta
galáxia espiral, a primeira luz do GMOS, não deixa dúvidas
quanto ao potencial do instrumento quando combinado com
o espelho primário de 8,1 m de diâmetro do Telescópio Gemini.
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em vários formatos e tamanhos.
Esta
imagem de M 74 mostra claramente vários detalhes tais como
aglomerados estelares, nuvens de gás e estrias de poeira
interestelar. Alguns destes objetos são similares
àqueles que podemos ver a olho nu, com binóculos ou pequenos
telescópios em nossa própria galáxia, a Via Láctea, em noites
sem Lua. "Ser capaz de distinguir tais detalhes finos em
uma galáxia a mais de 30 milhões de anos-luz de distância
de forma rotineira é bastante extraordinário e ajuda a dar
uma idéia da aparência de nossa galáxia se lá houvesse outro
telescópio do tamanho do Gemini apontado para nós!'', disse
o Dr. Jean-René Roy, Diretor Associado do Gemini Norte.
Estima-se que M 74 contenha cerca de 100 bilhões de estrelas,
o que a torna ligeiramente menor que a nossa Via Láctea.
"Este
instrumento coletou dados de primeiríssima qualidade em
sua primeira noite de operação científica, com desempenho
perfeito ao "sair da embalagem", ou melhor, dos 24 engradados
que trouxeram o instrumento do Canadá e Reino Unido até
o Havaí.", disse o Dr. Matt Mountain, Diretor do Observatório
Gemini. "Este é um testemunho do profissionalismo, planejamento
e trabalho de equipe do grupo multinacional de astrônomos
e engenheiros do Instituto Herzberg de Astrofísica (HIA,
Canadá), do Centro de Tecnologia Astronômica (ATC) e Universidade
de Durham (Reino Unido), os quais puderam construir este
instrumento e comissioná-lo com sucesso juntamente como
nossa equipe aqui em Mauna Kea. Este tipo de esforço multidisciplinar
e multinacional representa uma nova e poderosa maneira de
fazer astrofísica observacional em nível mundial.", continuou
o Dr. Mountain.
O
instrumento foi construído através da colaboração entre
o Observatório Gemini, Canadá e Reino Unido ao custo de
5 milhões de dólares. Separadamente, o NOAO (National Optical
Astronomy Observatories - Observatórios Nacionais para Astronomia
Óptica dos EUA) contribuíram com o desenvolvimento do software
para o subsistema do detetor e periféricos.
Rick
Murowinski (HIA, NRC - Conselho Nacional de Pesquisa do
Canadá) é o Gerente de Projeto e Engenheiro de Sistemas
deste ambicioso projeto desde sua concepção em 1994. Murowinski
comentou: "Este tem sido um longo projeto, que contou com
o esforço altruísta de muitas pessoas, mas ver este instrumento
finalmente instalado no telescópio, vê-lo funcionando correta
e imediatamente é realmente maravilhoso! É totalmente justificado
que a equipe canadense-britânica que concebeu, projetou
e construiu este instrumento esteja bastante orgulhosa do
que conseguimos juntos!".
Espera-se
que o GMOS comece o período de operação científica no final
deste ano, quando astrônomos dos sete países parceiros começarão
a usar o instrumento em uma grande variedade de projetos
científicos. "É extremamente excitante ver a ampla gama
de observações de primeira linha com o GMOS já escaladas
para os próximos meses.", disse o Dra. Inger Jörgensen,
astrônoma do Gemini que liderou os esforços de comissionamento
do instrumento. Ela acrescentou: "Eu estou altamente interessada
nas observações já previstas de aglomerados distantes de
galáxias, onde o Gemini é capaz de operar como uma máquina
do tempo e olhar para trás no passado e estudar um Universo
muito mais jovem que esse que vemos à nossa volta hoje.".
Dra.
Isobel Hook (Reino Unido), que ajudou na obtenção dos primeiros
dados espectroscópicos de múltiplos objetos, comentou que
"Os primeiros espectros produzidos pelo GMOS foram brilhantes!
Quando você combina o GMOS com a resolução do Gemini e seu
grande poder de captação de luz, você pode estudar detalhes
que de outra maneira seriam perdidos. Uma área na qual eu
creio que o instrumento vai exceder as expectativas é o
estudo de supernovas, estrelas que explodem em galáxias
distantes. Uma vez que possamos obter espectros destas
estrelas, poderemos compreender melhor a aceleração aparente
do Universo.".
Dr.
Bob Abraham, da Universidade de Toronto (Canadá), espera
com ansiedade usar o GMOS no Gemini Norte. Abraham disse:
"Para estudar adequadamente galáxias distantes, um instrumento
como o GMOS necessita estar montado em um grande e eficiente
telescópio, que proporcione imagens de excelente qualidade;
o Gemini é o primeiro telescópio de grande porte totalmente
projetado para preencher estes requisitos. GMOS é o instrumento
dos sonhos em um telescópio dos sonhos.".
Prof.
Roger Davies, da Universidade de Durham no nordeste da Inglaterra,
é o líder da equipe do Reino Unido responsável pelo GMOS.
Ele obteve alguns dados científicos para fins de demonstração
os quais logo serão liberados para os astrônomos. Para tanto,
coletou a luz de galáxias individuais em um longínquo e
massivo enxame de galáxias.
De
acordo com Davies, "Pudemos observar estas galáxias tão
facilmente como se elas estivessem em nossa vizinhança.
Agora usaremos estes esplêndidos dados espectroscópicos
para determinar suas massas, tamanhos e composição química,
e olhar para trás no tempo para ver como elas evoluíram
através da história cósmica. A combinação do tremendo poder
de coleta de luz do Gemini e a tecnologia do GMOS permitiram
obter dados fenomenais apenas alguns dias após o instrumento
ter sido instalado no telescópio. Posso ver que este instrumento
vai manter os astrônomos bastante ocupados e felizes por
um bom tempo!".
O
Observatório Gemini é uma colaboração internacional que
construiu dois telescópios idênticos de 8,1m de diâmetro
cada. Os telescópios localizam-se em Mauna Kea, Havaí (Gemini
Norte), e Cerro Pachón no Chile central (Gemini Sul), e
portanto fornecem total cobertura de ambos hemisférios celestes.
Ambos telescópios incorporam novas tecnologias que permitem
que seus espelhos, grandes e relativamente finos, os quais
estão sob controle ativo, coletem e focalizem tanto a radiação
óptica como a infravermelha vinda do espaço. O Gemini Norte
já começou as operações científicas e o Gemini Sul deve
iniciar as operações científicas no final de 2001.
O
Observatório Gemini provê as comunidades astronômicas de
cada país com instalações astronômicas de estado-da-arte
e distribui o tempo de observação proporcionalmente à contribuição
orçamentária de cada país. Além da contribuição financeira,
cada país também contribui significativamente com recursos
científicos e técnicos. As agências nacionais que formam
o consórcio são: National Science Foundation dos EUA (NSF),
Particle Physics and Astronomy Research Council do Reino
Unido (PPARC), National Research Council do Canadá (NRC),
Comisión Nacional de Investigación Científica y Tecnológica
do Chile (CONICYT), Research Council da Austrália (ARC),
Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Tecnológicas
da Argentina (CONICET) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico do Brasil (CNPq). O Observatório
é gerenciado pela Association of Universities for Research
in Astronomy, Inc. (AURA) sob contrato de cooperação com
a NSF. A NSF também atua como agência executiva do consórcio
internacional.